Qual a importância da atenção em contexto de trabalho?
Nesta série de quatro entrevistas, conversei com profissionais de diferentes áreas para descobrir como a atenção ao detalhe, o foco e a gestão de distrações impactam a sua atividade.
O objetivo é obter uma visão multifacetada sobre a importância da atenção no trabalho e inspirar profissionais de diversas áreas a refletirem sobre as suas próprias práticas.
A entrevistada de hoje é Joana Campos Silva, Consultora de Comunicação e Moda Circular.
Fonte da fotografia: Joana Campos Silva
Conheci a Joana na Maratona da Sustentabilidade, um evento que organizou em 2021 e em que reuniu especialistas de diversas áreas para facilitar, gratuitamente, um conjunto de aulas sobre diferentes dimensões da sustentabilidade.
Menciono esta iniciativa porque ela ilustra bem, na minha opinião, as características que encontrei em todas as minhas interações com a Joana desde então: energia, entusiasmo, capacidade de mobilização e generosidade.
Quando a convidei para esta entrevista, perguntou apenas: “Hoje à tarde ou sexta-feira da próxima semana?” Claro que falámos no próprio dia, e claro que a conversa me deixou muito em que pensar.
Sem mais demoras, aqui está a minha entrevista com a Joana Campos Silva:
Qual o papel que a atenção desempenha no teu trabalho?
Eu sou muito motivada por paixões. Acho que quando fico muito atenta a coisas, a temas específicos, as pessoas à minha volta acham que eu fico obcecada. Sou muito apaixonada por determinadas áreas, como moda, estratégia, sustentabilidade, educação, e ponho todo o meu foco e empenho nessas áreas. Gosto muito de analisar, refletir, escrever, e por isso não sinto muito esforço para ter atenção a coisas de que gosto muito.
Podes dar-me um exemplo de uma aprendizagem ou descoberta que tenhas feito por teres prestado especial atenção a um detalhe ou aspecto da tua atividade?
Quando gosto muito de uma coisa, eu questiono bastante, não só por ser altamente curiosa, mas também por ter aprendido com o tempo que não faz mal não sabermos tudo, e que o facto de questionar e fazer perguntas (que às vezes até podem parecer muito tontas) me leva a um ponto de vista diferente.
Isto aplica-se não só à forma como presto o meu serviço às empresas, mas também com o meu filho - sou tão observadora que detecto oportunidades de aprendizagem, testo metodologias e vejo resultados.
Quando estava grávida, comecei a pesquisar sobre a metodologia Montessori e descobri o que era um “ambiente preparado”. O ruído visual afeta a aprendizagem. Uma vez vi um vídeo que explica a forma como o pensamento humano se constrói: primeiro a visão, depois a emoção. Ou seja, o meu filho, antes de saber dizer “mãe”, reconhece-me visualmente e expressa emoções quando me vê. Esse vídeo foi fundamental para entender como deveria trabalhar os aspectos do ambiente em casa.
Fonte da fotografia: Joana Campos Silva
Como a visão vem antes das palavras, isto significa que o ambiente é fundamental para preparar a aprendizagem. Como a criança não consegue assimilar muitas coisas ao mesmo tempo, o ruído visual (brinquedos em excesso) só atrapalha. É importante preparar o ambiente para a criança se focar em apenas uma competência de cada vez.
Se queres que a criança trabalhe determinada competência, preparas o ambiente para que isso aconteça. Colocas o ambiente à dimensão dela, e o ambiente está limpo de distrações para a receber. É mágico - o ambiente preparado leva efetivamente a criança a uma ação. Se pensarmos bem, o mesmo acontece com as técnicas de marketing, o princípio é o mesmo. Uma delas é evitar os “pontos de fuga”, por exemplo.
Fonte da fotografia: Joana Campos Silva
Que práticas utilizas no dia-a-dia para manter o foco no que é mais importante?
Por um lado, a minha agenda está muito bem dividida por cores e cada cor corresponde a uma área (assuntos pessoais, eventos, compromissos da empresa).
Por outro lado, adoro escrever, por isso quando tenho coisas importantes uso um caderno, não só para tirar apontamentos, mas também para registar notas para não me esquecer.
Depois, não consigo ter a secretária desarrumada e só consigo trabalhar se tiver o desktop completamente vazio, por isso tenho uma pasta chamada “arrumar”.
Além disso, funciono muito por objetivos, trabalho bem sob pressão. Prefiro isso do que trabalhar sem uma data definida, porque sei que não há sentido de urgência, as metas tendem a arrastar-se no tempo, e isso gera cansaço.
Na tua área, a que gostarias que as pessoas prestassem mais atenção?
Gostava que as pessoas escutassem mais. Acho que a escuta ativa é um problema geral das marcas, a dificuldade em escutar o que o cliente quer e perceber que se o cliente não entende a nossa mensagem, nós é que não estamos a comunicar bem.
Agradeço à Joana pelas reflexões que esta conversa inspirou e destaco quatro grandes ideias para memória futura:
Quando há interesse e paixão pelos temas, a atenção “vai atrás”, naturalmente, sem esforço.
A importância de preparar o contexto para a atenção, garantindo um ambiente livre de distrações e preparado para a aprendizagem.
A pressão para objetivos pode mobilizar a atenção, ao passo que projetos muito dilatados no tempo podem gerar cansaço e dificuldades em manter o foco.
A escuta ativa como uma forma de prestar atenção ao que os clientes procuram e um primeiro passo para adaptar a estratégia de comunicação de uma marca.
Esta é a terceira edição de “Histórias de Atenção”, uma série de quatro entrevistas sobre a importância da atenção em contexto de trabalho.
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Mais uma entrevista interessantíssima e muito bem escolhidas as “quatro grandes ideias para memória futura”. Embora a minha área de trabalho tenha sido outra bem diferente da de Joana Campos Silva, há várias partes do seu discurso que poderia ter sido eu a dizê-las. Por exemplo, no desktop “tenho uma pasta chamada “arrumar”” e “não faz mal não sabermos tudo, e que o facto de questionar e fazer perguntas (que às vezes até podem parecer muito tontas) me leva a um ponto de vista diferente”. Parabéns Ana!