A imagem de capa desta edição foi criada pela Catarina Machado.
Esta newsletter foi o primeiro projeto que decidi fazer quando comecei a trabalhar como freelancer. Foi, por isso, o primeiro que concebi, desenhei e implementei sozinha, e é talvez aquele que melhor reflete quem sou, como penso e o que me interessa.
Foi idealizado como um exercício de curadoria humana, feito a partir das curiosidades que registo nos meus cadernos ao longo do mês, com o propósito de facilitar o acesso a conteúdo de qualidade, sempre que possível em Português. Não tem um objetivo financeiro e é desde o início guiado por três critérios: entusiasmo, credibilidade e utilidade.
Esta é a 50ª edição e é também aquela em que se celebram 4 anos de newsletter. Desde janeiro de 2021, este espaço foi crescendo, recebendo mais leitores e abordando novos temas. Aqui já não se fala só sobre a nossa relação com o trabalho. Fala-se também de atenção, criatividade, bem-estar e parentalidade.
Assim, a partir de hoje a newsletter vai passar a chamar-se Caderno de Curiosidades. Esta última edição em nome Yellow Pad é dedicada ao papel, essa “maravilhosa tecnologia para armazenar e recuperar observações”1.
Neste número reuni metáforas, rotinas criativas e práticas em família. Espero que aqui encontres inspiração, conhecimento e ideias aplicáveis à tua realidade. Se houver algum tema que gostasses de ver abordado em futuras edições, escreve-me.
O que é um caderno?
Ao longo dos anos tenho colecionado diferentes formas de descrever um caderno. Eis as duas que me parecem mais interessantes:
“Estúdio portátil: um espaço onde podemos permanecer e conviver com a nossa imaginação, intuição e inspiração.”
Paulus Berensohn, artista
“Jardim de ideias: contém sementes, ervas daninhas, algum fertilizante e as primeiras flores de todas as novas criações.”
Mo Willems, ilustrador
Cadernos grotescos
No livro “Como Escrever”, Miguel Esteves Cardoso diz-se “partidário dos bons cadernos”, mas afirma que precisa também de ter um “caderno das manchas grotescas” para registar ideias que surgem quando está “a comer com os dedos ou a preparar comida”. Nesta era em que até os cadernos são submetidos a um ideal de perfeição, pareceu-me uma prática libertadora. E para quem tende a ter as suas melhores ideias no banho, saiba que há cadernos à prova de água.
Diários de treino
Durante os Jogos Olímpicos de Paris, o caderno verde da atleta australiana Nicola Olyslagers alcançou fama mundial. Aparentemente, o registo regular de indicadores de desempenho é uma parte essencial da sua rotina de treino e aprendizagem. E não é a única: neste artigo, outros atletas explicam como usam os cadernos para refletir e manter o foco nos seus objetivos.
A maleabilidade do papel
Talvez por sofrer de dor crónica desde os 17 anos (ver evidência no erro bastante público que cometi em dezembro), tenho muito interesse por casos de pessoas que são capazes de manter e adaptar a sua prática criativa a condições de mobilidade condicionada. Um exemplo comovente é o de Matisse, que quando deixou de se conseguir levantar passou a “pintar com tesoura”, recortando as formas com que faria as suas composições. Aqui mais perto de casa (e do coração), encontro inspiração na minha amiga Catarina, que tem encontrado diferentes estratégias para desenhar ao ritmo que a dor lhe permite.
O digital é igual?
O meu mini crítico de arte a explorar uma digitalização do caderno de Yayoi Kusama, em Serralves. Mais tarde diria: “Quando os meus desenhos ficam mal feitos, ficam assim.”
Walter Isaacson, que citei na introdução, escreveu as biografias de Leonardo da Vinci e de Steve Jobs, entre outras. Segundo ele, as 7.200 páginas de notas e rabiscos de Leonardo que sobrevivem até aos dias de hoje correspondem provavelmente a 1/4 de tudo o que escreveu, e ainda assim representam uma percentagem superior à de documentos digitais produzidos por Jobs nos anos 1990 que foi possível recuperar. Numa altura em que nos debatemos com o excesso de conteúdo em arquivos digitais, vale a pena pensar nos registos que queremos preservar.
Álbuns de memórias
Como guardiã não oficial das memórias de família (uma missão que pode ter sido inspirada pela minha tia-avó), tenho feito uma sessão anual de preenchimento do Caderno das Respostas com o meu filho e tem-se revelado um ótimo pretexto para parar e dar atenção ao que o pequeno filósofo pensa, observa, analisa e imagina.
Estas foram algumas das ideias que passaram pelos meus cadernos ao longo deste mês e que escolhi partilhar contigo.
Agora tu: quando pensas em papel e cadernos, que exemplos curiosos te ocorrem? Formas interessantes de utilização, projetos criativos, inspirações… Partilha nos comentários ou em resposta a este e-mail! 👇
Walter Isaacson, Leonardo da Vinci
Adorei! Eu vou registando o momento do mais pequeno em pequenos MEMES em imagem. E tenho vários livros com registos, mas adorei a ideia!
Gostei, mais uma vez. Aliás, tenho gostado sempre :) Parabéns!