Memórias de pandemia (março 2020)
“Imagina que dás aulas numa universidade e recebes um convite para dar um seminário de fim-de-semana noutra cidade. Tens em casa uma bebé de 12 semanas. O pagamento que vais receber compensa os custos que possas ter com o cuidado à criança. O que escolhes?”
E se tivesses mais 20 anos de vida saudável? E mais 30? Como é que a tua resposta mudaria?
De acordo com o investigador Hal E. Hershfield, que colocou a questão a 4.000 pessoas para avaliar como resolviam dilemas envolvendo uma escolha entre tempo e dinheiro, a distribuição de pesos altera-se quando a perspetiva de tempo é alargada.
Isto porque, se tivermos mais anos para viver, o número de fins-de-semana em que podemos trabalhar aumenta, mas o número de fins-de-semana que podemos passar com a bebé não1.
Nada como ver a vida traduzida em números.
Que outras escolhas, na tua vida e carreira, se alterariam se soubesses que tinhas mais tempo?
E agora os temas deste mês, vamos a isto!
Atenção nas organizações
Quais as maiores ameaças à atenção nas empresas? Poderemos aceder a experiências de flow em contexto de trabalho? Será a promoção do foco um caminho para a semana de 4 dias? São três das questões a que tive oportunidade de responder recentemente, quer em entrevista ao Porto Canal, quer em artigos de opinião publicados na RH Magazine e na Human Resources Portugal.
🖇️ Ler o artigo sobre flow no trabalho (RH Magazine)
🖇️ Ler o artigo sobre a semana de 4 dias (Human Resources Portugal)
Erros sistémicos
Num episódio recente do podcast 45 Graus, fala-se a certa altura na diferença entre erros “bons” e “maus” nas organizações. O livro Right Kind of Wrong, da Professora Amy Edmondson, de que já falei aqui, propõe uma grelha de análise para se fazer essa distinção e uma forma de interpretar os erros tendo em conta os contextos em que ocorrem (ex. um erro a bordo de um avião pode ser fatal, mas no contexto da formação de pilotos pode ser importante). Numa nota mais pessoal, num ano em que lidei com dois erros hospitalares sistémicos, este livro ajudou-me a enquadrar e processar essas experiências, pelo menos de um ponto de vista racional. Um agradecimento especial à Rita Henriques por ter insistido para que o lesse.
Cadernos de memórias
Este mês temos andado em modo nómada, e apercebi-me pela primeira vez de que o nosso caderno de viagens funciona como um mecanismo de proteção da atenção. Preservar memórias tem carácter de missão para mim, mas o exercício de registar o que vivemos é também um bom treino de foco no presente. Todos os anos o levamos nas férias, e aos poucos vamos envolvendo o Pedro nos registos, seja com desenhos, colagens ou pequenas narrações que transcrevemos. Este ano cometemos o pecado de trair a Moleskine com a LEUCHTTURM1917 e temo que já não vamos voltar atrás. O que é pena, porque a relação era longa, e em tempos até escrevi um texto inspirado por ela.
📌 Ler o texto (alguns links no artigo poderão estar indisponíveis, mas se tiveres interesse nalguma referência específica escreve-me porque pode ser que a consiga recuperar).
Da biblioteca ao cinema
Estamos em 1980 e um bibliotecário de uma escola na Califórnia decide escrever uma carta em representação dos alunos e enviá-la para o realizador Francis Ford Coppola, sugerindo a adaptação de um livro. Não só recebe resposta, como ao longo do processo de produção os alunos vão sendo envolvidos em decisões que vão desde o título à cena final. O filme sai em 1983, com estrelas como Tom Cruise, Rob Lowe e Patrick Swayze no elenco, e a escola tem direito a uma antestreia especial. Não é possível ler as cartas originais sem sentir o entusiasmo que se deve ter vivido naquelas salas de aula. Um exemplo particularmente inspirador de como as bibliotecas podem ser contextos de oportunidade e um adulto que se importe pode fazer a diferença na vida das crianças. Via
.Do cinema à pintura
Ultimamente tenho-me lembrado muito do Jim Carrey. Não é comum, até porque tirando o papel que fez no Eternal Sunshine of the Spotless Mind, não é um ator que seja muito presente nas minhas recordações. Mas, talvez porque tenho andado a pensar sobre flow, hobbies e longevidade, ocorreu-me rever um mini-documentário sobre a sua paixão pela pintura.
📌 Ver o vídeo (6:19)
Estas foram algumas das ideias que passaram pelos meus cadernos ao longo deste mês e que escolhi partilhar contigo.
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Até novembro! 👋
Guerra e Paz | Fnac | Almedina | Bertrand | Wook
A investigação é reportada no livro The New Long Life.
Adorei ler, como de costume :) Parabéns pela perspicácia, relevância dos temas e atualidade.
Ana