As minhas memórias de infância ilustradas pela Catarina Machado com o filtro mais bonito de todos: o da amizade.
Em 1985 os meus pais tinham 23 anos, andavam na faculdade e decidiram abrir um negócio para ocupar as tardes livres.
Eu, que até aos 33 fugi a sete pés da ideia de trabalhar por conta própria (ó suprema ironia), não posso deixar de admirar a audácia, sobretudo porque estavam em Coimbra, uma cidade mais conhecida pelos serviços do que pelo empreendedorismo.
O meu tio-avô tinha uma loja para arrendar no Centro Comercial Girassolum (“o Gira”) e ofereceu-lhes condições especiais durante o primeiro ano.
Pintaram as paredes, montaram as estantes e fizeram o primeiro balcão - que ainda existe - a partir de uma bancada velha forrada com madeira nova.
Este ano a loja dos meus pais faz 40 anos. Eu faço 39, pelo que será difícil encontrar um período da minha infância que não se cruze com o Gira. É que se hoje em dia levar os filhos para o trabalho é um evento, naquela altura era só parte da rotina.
Passei várias tardes a ver os meus pais a trabalhar, mas também a comer pastéis de nata à colher no café do senhor César, a namorar as novidades na loja de brinquedos, a investigar as cassetes no clube de vídeo e a percorrer as estantes na livraria do senhor Luís.
Em honra deste passado, partilho contigo o livro que compus em 2022 com a ajuda da Catarina Machado para a celebração dos 36 anos e que conta a história da empresa desde a fundação.
É que, na minha opinião, as empresas precisam de historiadores.
Entrevista sobre trabalho remoto
O teletrabalho voltou a estar na ordem do dia (2020, és tu?), por isso fui recordar uma entrevista que fiz, um ano depois do início da pandemia, com a Etienne Castro, Coordenadora de Recursos Humanos da Catho, uma plataforma brasileira de recrutamento online. Penso que algumas das preocupações que tenho ouvido (sobre cultura, sobre horários, sobre solidão) encontram resposta nesta conversa. Nota: sempre que a Etienne diz “time”, é “equipa” em Português do Brasil.
O luxo da lentidão
No mundo das entregas no próprio dia, há uma empresa que se dá ao luxo de demorar anos a entregar os produtos aos seus clientes. Chama-se Hermès, tem 188 anos de atividade e não dá sinais de estar em declínio - antes pelo contrário. A equipa de reportagem do 60 Minutos foi convidada a conhecer os bastidores da sua produção artesanal, e enquanto eu via o vídeo não conseguia deixar de pensar na previsão de John Hagel de que, face à ameaça da automação, o futuro traria oportunidades para os artesãos.
Negócio ou comunidade?
Não sou cliente do Starbucks, mas tenho um fascínio pela história da empresa e pela visão do seu fundador, Howard Schultz. Durante anos, o propósito de ser o “terceiro lugar”, o espaço que não é casa nem trabalho, mas onde as pessoas podem encontrar conforto e comunidade, norteou várias decisões nada óbvias, como a de abrir as casas-de-banho a não-clientes. Agora, com nova gestão e resultados pouco animadores, a empresa decidiu alterar esta política, o que poderá levar à exclusão de uma parte da população nos bairros em que as lojas se inserem. Afinal a comunidade paga-se? Curiosa para ver os próximos desenvolvimentos.
IA e desinformação
O Bill Gates disse recentemente numa entrevista que tinha sido ingénuo ao pensar que, perante uma pandemia, as pessoas iam querer conhecer os dados e compreender a ciência, quando na verdade o que se verificou foi uma disseminação espantosa de mitos e mentiras. Receio que a Inteligência Artificial venha a contribuir para mais fenómenos como este. Nesta área tenho aprendido muito com o Tiago Belotte, que é learning designer, trabalha e ensina com IA há muito tempo e faz um trabalho constante de divulgação das potencialidades e dos perigos da tecnologia.
Atividades sem ecrãs
Aguarelas ao ar livre: à esquerda, os meus rabiscos; à direita, os do mini artista.
Em dezembro, a pensar nas férias de Natal, partilhei no Instagram um conjunto de atividades sem ecrãs para fazer com as crianças dentro e fora de casa. Com o Carnaval à porta, resolvi recuperá-las e partilhar por aqui também.
Tangente
Este mês estreio uma nova secção com ideias tangenciais que passam pelos meus cadernos. Supostamente ninguém quer saber de poesia ou de correspondência que não seja digital, mas a
fundou um clube para pessoas que querem receber um poema por mês no correio. E está sempre esgotado.Estas foram algumas das ideias que passaram pelos meus cadernos ao longo deste mês e que escolhi partilhar contigo.
Vamos fazer uma versão colaborativa de um clube de poesia? Partilha o teu poema ou livro de poesia preferido nos comentários ou em resposta a este e-mail👇 Numa próxima edição, reúno todas as recomendações.
Que curioso e que viagem no tempo!! Passei muitas tardes na Fitónia com o meu pai, que era cliente assíduo porque era um apaixonado por peixes e tinha vários aquários de diversas dimensões. Sempre tivemos muitos peixinhos e eu adorava ir ao Gira com o meu pai e maravilhava-me com o mundo encantado de cores e padrões de peixes, plantas e pedras submersas nos aquários da loja da tua família ♥️
Que dúvida Que dívida Que dádiva
Que duvidávida afinal a vida
David Mourão-Ferreira